Quanta saudade que eu tenho, da aurora da minha vida, da minha juventude querida, quando a Tropicália resistia e era proibido proibir. Hoje, ao que parece, o que mais apetece “é proibido liberar”. Beijar não se pode mais! Namorar muito menos. Aos olhos dos “como fenos”: namoro e Lap Top teem parte até com o Demo. Celular, nem pensar. Nas escolas, muito menos. Tira a concentração, atrapalha os estudos. O certo, agora, é todo mundo ficar mudo. Ao volante, aí sim, pode? Não! Se dirigir, não fale; não beba! Braço pra fora, nunca. Quer na Ferrari ou no Fusca. Chego aos bancos, agora posso. Abrir a boca e papear. Enquanto a fila não anda, puxo o meu celular. O vigilante se aproxima, sorriso educado, reclama: “desligue o aparelho, seu moço. Aqui, também, é proibido.” No Posto de gasolina, logo ali na esquina, terei minha liberdade. Tiro o aparelho do bolso, aproxima-se outro moço: “aqui não! É proibido!”. Tento usar o aparelho, qualquer lugar que seja. Meu abrigo é um templo. Ali dentro da Igreja. Agora com a benção de Deus, afago a tecnologia. Enfim, ó pai, vou usar, Celular, nosso guia. “Não, meu filho!”, uma voz grave e cortante se espalha e alerta: “Celular aqui não, isso é uma casa de oração”. Se aqui embaixo não posso, subo, pego um avião. Acima das nuvens, aposto, não haverá proibição. A aeronave desliza, suave, como uma bala; penso “duvido se alguém proibirá minha fala”. Linda mulher se aproxima, com uma voz de veludo. Toca em meu ombro e murmura: “deixe o aparelho mudo”. Desligo o celular, fecho os olhos; não tenho mais forças pra lutar. De que me serve um aparelho, no qual não posso falar?”
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