A experiência de estar em uma aeronave, acima das nuvens, a uma velocidade de 900km por hora é fantástica. Cada viagem é um desafio que me faz lembrar do título de um livro de Milan Kundera: “insustentável leveza do ser”. Nessas horas, porém, me vem sempre a mente o paradoxo sonhado por Santos Dumont: um pássaro de metal, mais veloz que o som, abarrotado de seres, seguros pelo nada. O que nos mantém vivos: a engenharia humana, a força propulsora das turbinas, a fé em um Deus (ou sua mãe e seu pai, ou nenhum dos dois) e a certeza de que seu dia não chegou e que não morrerás de um acidente aéreo. Dentro de um avião somos o sopro de uma vela, uma luz tão fugaz quanto uma relâmpago. Já perdi o medo de avião faz tempo. Tomei consciência de que ou se chega ou se morre. E morrer é a única certeza da vida. Aqui em cima, parafraseando Vander Lee, sinto-me bem próximo de “onde Deus possa me ouvir”. Não sinto o peso dos anos, da vida, nem do corpo. Sinto-me leve. Escrevo hoje um post que só irá porei no ar amanhã. Mas o que é o amanhã? O amanhã é nada. Existe o agora. Nós, os jornalistas, temos o direito (e o dever) de enganar nossos leitores. Somos os únicos profissionais que temos licença para transformar o “amanhã” em hoje e o hoje em “ontem”. Mesmo sabendo que entre o hoje e o amanhã talvez não exista nem a leveza do ser. Bem, mas se este post for para o ar, pelo menos desta vez, a leveza foi sustentável.
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