Os pais, ao que tudo indica, possuem ligação espiritual com os filhos. No dia 30 de outubro de 2010, às 18h24, vibra o meu celular. Surpreso, vi a identificação: era Paulo Guedes. E do seu celular, algo que nunca tinha acontecido. Ele sempre ligava do aparelho convencional. Tinha dificuldades de operar o celular. Então, apenas atendia as chamadas a ele dirigidas. Da última vez que estive em Sena Madureira, ele reclamava constantemente do aparelho, que não prestava, não segurava carga, enfim, pouco utilizava o dito. Mas, naquele dia 30 ligou para saber se eu já tinha voltado da última viagem que fizera a Brasília. Reclamou por eu não ter avisado. Falei para ele que viajaria dia 3 para São Paulo, depois só pousaria em Manaus para trocar de aeronave e ir para Recife. Ele deu uma gargalhada, disse que eu só vivia viajando, mandou um beijo para as crianças. Eu pedi a benção como sempre fiz “desde que me entendo por gente”, ele me desejou felicidades e desligou. Um papo de 1min04segundos. Ao meio dia do dia 31 de outubro de 2010, doze horas depois, Pedro Paulo Guedes Monteiro, meu pai, estava morto, vítima da negligência e do descaso com que as pessoas são tratadas no Sistema Único de Saúde. Fica o registro, como mais uma homenagem a ele. No laudo, como sempre, vai aparecer “insuficiência respiratória”. Desde que os médicos descobriram essa fórmula “genérica” de registrar a causa da morte, ninguém mais morre de nenhuma outra doença neste País.
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