Na lista da Associação Nacional dos Programas de Pós-graduação em Ciências da Comunicação (Compós) a última discussão mais acalorada era se o Sindicato dos Jornalistas Profissionais de São Paulo deveria abrir ou não as portas para manifestações contra a imprensa. Ontem, recebemos um e-mail do colega Tomás Barreiros, que é Jornalista, professor universitário, presidente do Instituto Cultural de Jornalistas do Paraná, Diretor Regional Sul do Fórum Nacional de Professores de Jornalismo (FNPJ), Especialista em Língua Portuguesa e Mestre em Comunicação e Linguagens. Fiquei encantado com o equilíbrio e a serenidade. Disse a ele que buscaria essas duas coisas como meta para os meus textos e solicitei autorização para publicá-lo. Queria partilhar com os leitores e leitoras do meu Blog tão sábias palavras. Ei-las: “Aprecio acompanhar esse tipo de debate, extremamente democrático, em que se manifestam variadas correntes, dos defensores do socialista radical Plínio Sampaio aos adeptos do neoliberal José Serra. São debates necessários e interessantes, embora sempre me pareça que ninguém convence ninguém - todos já têm suas posições bem firmes (rsrsrs). O que é de espantar, isso sim, é a intolerância de alguns em relação às posições contrárias, assim como as tentativas de depreciar quem pensa diferente, sob qualquer pretexto (um erro ortográfico, por exemplo, que por si só não aponta se a ideia defendida por quem o comete merece ou não consideração - afinal, não falta gente que tem um espetacular domínio da língua e ideias dificilmente sustentáveis). Ora, todos têm o direito de pensar o que quiserem e manifestar livremente seu pensamento. Isso se chama democracia. Senão, corremos o risco de adotar aquela máxima: "Há democracia quando você concorda comigo; autoritarismo acontece quando você discorda...".
O debate levanta para mim diferentes questões - para algumas, tenho minhas respostas, para outras, não. Por exemplo:
1) Será que ainda é sustentável a ideia de que a grande mídia busca realmente a "imparcialidade" e a "isenção"?
2) Alguém conseguiria provar que qualquer veículo da grande mídia é verdadeiramente equilibrado no trato da política?
3) É possível acreditar que a Folha de S. Paulo é um veículo honesto, que tem como princípio norteador o interesse público?
4) Não seria mais honesto um modelo em que cada veículo defendesse abertamente suas posições, sem fingir (e até alardear nas peças publicitárias) uma suposta imparcialidade que não tem?
5) Ainda devemos ficar espantados ao constatar que este ou aquele veículo, de qualquer linha que seja, mesmo alardeando uma falsa imparcialidade, faz tudo que pode para favorecer alguns e prejudicar outros?
6) Pode-se defender que o jornalismo publicista foi realmente superado e vivemos hoje um modelo de "objetividade"? Aliás, ainda há alguém que acredite na possibilidade de "objetividade" na mídia?
7) O poder econômico dos grandes grupos midiáticos está a serviço do interesse público ou dos interesses próprios desses grupos?
É perfeitamente aceitável que um jornalista seja adepto de ideias de esquerda, centro ou direita. O que parece inconcebível, ao contrário, é que um jornalista não pense em como se autodefinir diante das questões políticas e ideológicas. E também que um jornalista não tenha espírito crítico. Se o jornalismo não é crítico, não pode ser bom jornalismo, não é mesmo? E crítico em relação a tudo e todos: governo e oposição, mídia de direita e de esquerda.
Outra questão que me preocupa é a cobertura da mídia em relação ao projeto da "Ficha Limpa". Parece coisa de torcedor e não de jornalista. É claro que é louvável desejar que candidatos a cargos públicos eletivos não possam ter "ficha suja", mas outra coisa é não analisar os aspectos legais e torcer para que a lei vigore a qualquer custo, inclusive com o sacrifício de preceitos basilares do nosso edifício jurídico. O STF talvez julgue a lei inconstitucional, exatamente porque a lei é inconstitucional. Há um princípio consagrado no Direito, absolutamente fundamental: a lei não pode jamais retroagir em desfavor do réu. Se se admite que, por um casuísmo, pressão da mídia ou mesmo a pretexto de um muito bem intencionado desejo de melhorar a política, viole-se um princípio constitucional básico, há o risco de abalarmos a base de nossos edifício jurídico. E como dizia Tomás Morus no filme "O homem que não vendeu sua alma": até ao diabo deve-se dar todos os privilégios da lei, porque se destruirmos o edifício jurídico não teremos depois onde nos abrigar."
OBS: Professor, obrigado pela lição e pela autorização. Que todos sejamos capazes de refletir sobre suas palavras e sejamos mais tolerantes em prol do fortalecimento da democracia.
Visite também o Blog de Educação do professor Gilson Monteiro e o Blog Gilson Monteiro Em Toques.
Obrigado, meu caro, pelas gentis palavras.
ResponderExcluirUm abraço,
Tomás.