quinta-feira, 11 de junho de 2009

Carta aberta à comunidade

Não nasci no Amazonas, mas sempre tive orgulho de aqui habitar e construir toda a minha vida acadêmica e profissional. Tenho ouvido, ultimamente, um jingle do governo do Estado proclamando todos a ter orgulho de ser amazonense. Não basta, porém, gastar milhões em jingles. De um governador, espera-se atitudes que nos façam sentir orgulho de ser por ele governado. Exato um meses após o ato bárbaro cometido por Amin Aziz, irmão do vice-governador Ormar Aziz, sinto falta de uma manifestação clara, peremptória e incisiva do governador do Estado, Eduardo Braga, condenando a invasão da Universidade Federal do Amazonas (Ufam). Quero sentir orgulho de tê-lo como governador e não é nenhum exagero esperar isso da máxima autoridade política do Estado. Por mais que a imprensa de Manaus tenha tentado me transformar em vilão e ter posto a pecha de vítima no vice-governador, a grande vítima de tudo isso foi a democracia, a liberdade de expressão e a liberdade de cátedra. Portanto, era de se esperar do Governador do Estado a condenação imediata do ato de barbárie perpetrado pelo irmão de um dos seus colaboradores. Isso daria segurança a todos de que a Democracia é um valor inviolável neste estado.
Calar, governador, sobre o ato bárbaro cometido por Amin Aziz no dia 11 de maio, no auditório Rio Negro, do Instituto de Ciências Humanas e Letras (ICHL), é concordar plenamente com a fala absurda do presidente da Assembléia Legislativa do Estado (ALE), Belarmino Lins. Ele foi taxativo ao dizer: “que isso sirva de lição para que nenhum professor fique mais emitindo opinião em sala-de-aula”. Assim, governador, um mês após o retorno da barbárie, ainda esperamos que o senhor use o seu programa de rádio, convoque uma coletiva, vá aos jornais e desautorize a fala do seu líder e de todos os seus liderados por ter sido a mais infeliz e absurda manifestação de um presidente de Assembléia Legislativa não apenas da história do Amazonas, mas da história brasileira, quiçá, da humanidade. Governador, o senhor é o representante maior do estado democrático de direito e não pode, em hipótese nenhuma, corroborar com a defesa pública da lex talionis em pleno Século XXI. Pelo Código de Hamurabi, que data de 1.780 a.C. se uma pessoa matou o filho de outra, deveria ser posta à morte. A fala de Belarmino Lins deixa claro que se um professor ofendeu a honra de uma família (e eu comprovadamente não o fiz), deve ser tratado a socos, pontapés e ameaças de morte na frente dos seus alunos como se fosse a coisa mais normal do mundo. Governador, o senhor deve uma explicação clara a mim, à sociedade e aos seus possíveis eleitores. Um defensor do desenvolvimento sustentável não pode se omitir diante de um fato tão grave. E até agora o senhor se omitiu. E interpreto a sua omissão como concordância plena com a fala do presidente da ALE. Ainda espero, e a sociedade também, uma postura oficial pelo menos até o dia 11 de julho, quando o fato completará dois meses.
Reitoria: uma posição vergonhosa
Se o governador do Estado foi omisso até agora como a autoridade maior do estado, isso também pode ser cobrado do prefeito da cidade, Amazonino Mendes, como a segunda maior autoridade do estado e a primeira do município. Da primeira autoridade da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), então, era de se esperar uma posição indelével contra a invasão em todas as instâncias. O que se viu, no entanto, foi uma reitoria acovardada (tanto o reitor atual quanto a reitoria eleita), omissa e mais preocupada em receber as homenagens aos duvidosos 100 anos em Brasília. A miopia política é tamanha que não se teve notícia, de que o fato tenha sido denunciado no próprio Congresso Nacional. O evento seria o momento ideal para se deixar bem claro que o princípio maior das universidades, a liberdade de cátedra e a inviolabilidade do campus, fora violado em Manaus. Isso não ocorreu. Ao argumentar que a agressão verbal promovida contra a Ufam pelo ex-prefeito de Manaus, Serafim Correia, era mais grave que a agressão sofrida pelo professor, “e vocês não fizeram mobilização nenhuma”, o reitor Hidembergue Ordozgoith da Frota jogou por terra qualquer mérito que possa ter nos oito anos a frente da Ufam. Seu comentário infeliz demonstra miopia política e falta de compressão da gravidade do que foi a invasão ao campus da Ufam. A universidade deveria ter se manifestado com Nota Oficial independentemente da pressão sofrida pela reitoria. A nota só saiu minusculamente em um dos jornais da cidade por pressão da comunidade, contrastando com manifestações de apoio de entidades nacionais e internacionais, bem como manifestações de apoio de populares que me encontram nas ruas, em escolas e reuniões acadêmicas. O mesmo professor Hidembergue Ordozgoith da Frota, que foi lépido e gastou duas laudas de papel para endereçar uma carta desaforada ao candidato Nelson Fraiji, não teve a dignidade de defender veementemente a instituição em um dos atos mais graves e violentos contra a liberdade de cátedra e a inviolabilidade do campus. Ser professor da Ufam não me envergonha, mas sinto repulsa em relação à postura tomada pela administração superior da Ufam. Que essa omissão não sirva de salvo-conduto para novos atos de barbárie em nenhuma das universidades brasileiras.

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