A democracia brasileira sofreu um dos maiores atentados, literalmente à bala, quando a juíza da 4ª Vara Criminal de São Gonçalo (Rio de Janeiro), Patrícia Acioli, foi executada com 21 tiros, ao se aproximar da entrada do Condomínio onde morava, em Niterói. Ela era considerava uma juíza “linha-dura” e enfrentava as milícias, os bicheiros e as quadrilhas de transportes clandestinos que atuavam na conhecidíssima “Baixada Fluminense”. Só pelo trio de quadrilheiros que enfrentava, é evidente que estava “marcada para morrer”. Revoltante, porém, é uma mulher dessas morrer dessa forma apenas por exercer dignamente a profissão e o deputado estadual do Rio de Janeiro Flávio Bolsonaro (PP), filho do deputado federal Jair Bolsonaro (PP) ir para o Twitter e escrever tamanho absurdo: ”Que Deus tenha essa juíza, mas a forma absurda e gratuita com que ela humilhava policiais nas sessões contribuiu para ter muitos inimigos”. Quer dizer que a juíza deveria mesmo era ser medíocre, aceitar as pressões dos milicianos, bicheiros e quadrilheiros para não ter inimigos? Então, os policiais federais brasileiros deveriam chegar de limusines, com flores, e convidar os larápios do Ministério do Turismo a acompanhá-los em um regabofe no Carpe diem, em Brasília, para não constrangê-los? Sou favorável aos direitos de todos os humanos, sem exceções. No entanto, quando os valores são desvirtuados a ponto de atingirem o trabalho digno das pessoas, sinto revolta. Quem deveria ir para o “quinto dos infernos” era a hipocrisia de alguns políticos demagogos que, certamente, são beneficiados e apoiados pelas milícias, pelos bicheiros e pelos quadrilheiros dos transportes clandestinos. O velho lobo comunista português, escritor José Saramago, na vivacidade do pensamento contestador, exercia muito bem o seu papel de intelectual ao dizer que “a democracia que vivemos é seqüestrada, condicionada...” Pois eu vos digo: a democracia brasileira, além das “qualidades” ressaltadas por Saramago, foi executada com 21 tiros. E nós? Será que vamos ter coragem de ir, pelo menos, à missa de sétimo dia? Ou vamos ficar calados, parados, esperando outros féretros de pessoas dignas e honestas passarem na nossa frente? Ficaremos gélidos, impassíveis, diante desse estupro coletivo?
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