quarta-feira, 30 de novembro de 2011

O PIM transformado em curral eleitoral

Impressiona a clarividência com que o acreano Djama Batista avalia o então ciclo da borracha e a falta de um projeto econômico consistente para a região. Vejam o que ele pontua no livro “Amazônia: cultura e sociedade”, em terceira edição da Valer: “... Quanto à economia, não permitiu a arrancada com que principiamos o século a superação da fase predatória: continuamos e continuamos extrativistas. Mal chegamos à pré-industrialização da borracha, com a simples lavagem do produto. Mantemos presentemente uma economia artificial, sob a tutela do governo, obrigando os líderes da produção, dos Estados e territórios, a uma duas e mais viagens anuais ao Rio de Janeiro, a reclamarem, de chapéu na mão, à beira da falência, o pagamento das safras. Em outras palavras: não principiamos sequer a construir uma economia no sentido capitalista (grifo nosso). O Pólo Industrial de Manaus (PIM), antiga Zona Franca, segue o mesmo ritual: as viagens deslocaram-se do Rio de Janeiro para Brasília. O chapéu foi substituído pelo pires. As mãos parecem ser as mesmas. A dependência dos favores do Poder Central é igualzinha, uma vez que o modelo é baseado em incentivos fiscais. As indústrias estabelecidas em Manaus são “aves de arribação”. Levantam vôo e mudam de lugar assim que sentem o cheiro de um percentual maior de incentivos. Essa dependência funciona como uma espécie de curral eleitoral: serve muito bem aos interesses dos políticos locais e ainda funciona como prêmio, uma vez que quem está no poder usa politicamente a prorrogação da Zona Franca, que, certamente, não será para o todo e sempre, em benefício próprio. E nós, que não temos mais nem pombos para dar milho, ficamos sentados em bancos quentes das áreas do Prosamim, cujas árvores, ao que parece, o vento as levou.

Nenhum comentário:

Postar um comentário