Impressiona a clarividência
com que o acreano Djama Batista avalia o então ciclo da borracha e a falta de um
projeto econômico consistente para a região. Vejam o que ele pontua no livro “Amazônia:
cultura e sociedade”, em terceira edição da Valer: “... Quanto à economia, não
permitiu a arrancada com que principiamos o século a superação da fase
predatória: continuamos e continuamos extrativistas. Mal chegamos à pré-industrialização
da borracha, com a simples lavagem do produto. Mantemos presentemente uma economia artificial, sob a tutela do
governo, obrigando os líderes da produção, dos Estados e territórios, a uma
duas e mais viagens anuais ao Rio de Janeiro, a reclamarem, de chapéu na mão, à
beira da falência, o pagamento das safras. Em outras palavras: não principiamos
sequer a construir uma economia no sentido capitalista (grifo nosso). O
Pólo Industrial de Manaus (PIM), antiga Zona Franca, segue o mesmo ritual: as
viagens deslocaram-se do Rio de Janeiro para Brasília. O chapéu foi substituído
pelo pires. As mãos parecem ser as mesmas. A dependência dos favores do Poder
Central é igualzinha, uma vez que o modelo é baseado em incentivos fiscais. As
indústrias estabelecidas em Manaus são “aves de arribação”. Levantam vôo e
mudam de lugar assim que sentem o cheiro de um percentual maior de incentivos.
Essa dependência funciona como uma espécie de curral eleitoral: serve muito bem
aos interesses dos políticos locais e ainda funciona como prêmio, uma vez que
quem está no poder usa politicamente a prorrogação da Zona Franca, que,
certamente, não será para o todo e sempre, em benefício próprio. E nós, que não
temos mais nem pombos para dar milho, ficamos sentados em bancos quentes das
áreas do Prosamim, cujas árvores, ao que parece, o vento as levou.
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