Um dia de janeiro de 1979, o
primeiro sábado depois que me mudei para Manaus com o objetivo de “vencer na
vida”, fui levado ao Bancrévea Club, depois ao Muruama Clube de Campo, pelo goleiro
Marialvo Duarte Hayden, casado com a minha prima, Maria Bulbol. Dos 15 anos em
diante, vivi parte da minha vida ao lado de Marialvo, Maria, Alfredo Bulbol,
José Bulbol, Waldelina Bulbol (minha tia querida), Danielle e Giselle Bulbol
Hayden. Ir ao Bancrévea e ao Muruama, aos sábados, transformou-se em rotina.
Numa dessas idas, ainda no ano de 1979 (não me lembro precisamente o mês nem a
data), conheci fui apresentado a Ézio Ferreira e a todos os demais membros da
família dele. Não ficamos amigos, apenas conhecidos. Vez por outra, no dia 1 de
maio, Marialvo me convidava e eu ia ao “aniversário do Ézio”, quando um evento
do mundo futebolístico e político de Manaus. Ézio Ferreira candidatou-se (não
votei nele por termos concepções políticas completamente divergentes),
elegeu-se deputado federal, viveu o auge do poder em Brasília, sem nunca deixar
de nos cumprimentar, conversar, tratar bem nas idas ao Muruama. Certa vez, num
destes sábados tradicionais do Muruama, quando eu já ia de carona com o Jorge,
o Russo do Mercado Adolpho Lisboa, eu estava sentado, sozinho, em uma das
cadeiras do Bar do saudoso Maurício. Esperava a minha vaga, pois, no Muruama,
os mais novos esperavam os mais velhos cansarem e os mais velhos que chegassem
atrasados esperavam termina o primeiro tempo para poderem entrar. Eis que me
chega o “carrão do Ézio”. Ele sai do carro com uma garrafa de Uísque à mão (não
me lembro a marca, só sei que era de altíssima qualidade). Pergunta: “Você bebe
uísque? Posso sentar?” Respondi que nunca tinha bebido uma dose de uísque. Ele
disse: “Pois vais beber agora”. Conversamos sobre tudo, mais que tudo, sobre a
política e os bastidores do poder em Brasília, no Governo José Sarney. Ao final
do encontro, uma garrafa e meia de uísque fora consumida. Terminou o primeiro
tempo, começou o segundo e nós nem jogar futebol fomos. Ali naquela tarde-noite
de um sábado qualquer começa uma relação de mútuo respeito entre uma pessoa que
conceitualmente sempre fora de esquerda com um político visceralmente de
direita. Nunca publiquei uma linha sobre nossas conversas. Ézio Ferreira jamais
me pediu algum tipo de favor jornalístico (e se pedisse eu não o faria, talvez
por isso jamais tenha pedido, por me conhecer). Nos últimos tempos, já como
professor da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), frequentei o escritório
dele aos sábados. Nosso dominó são momentos inesquecíveis de piadas, de
lembranças dele e nossas. A morte o levou esta madrugada. Deixas saudades e
belas lembranças de uma relação que jamais envolveu discussões políticas.
Descanse em paz, meu amigo!
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