sábado, 18 de junho de 2016

Ézio Ferreira: um amigo se foi

Um dia de janeiro de 1979, o primeiro sábado depois que me mudei para Manaus com o objetivo de “vencer na vida”, fui levado ao Bancrévea Club, depois ao Muruama Clube de Campo, pelo goleiro Marialvo Duarte Hayden, casado com a minha prima, Maria Bulbol. Dos 15 anos em diante, vivi parte da minha vida ao lado de Marialvo, Maria, Alfredo Bulbol, José Bulbol, Waldelina Bulbol (minha tia querida), Danielle e Giselle Bulbol Hayden. Ir ao Bancrévea e ao Muruama, aos sábados, transformou-se em rotina. Numa dessas idas, ainda no ano de 1979 (não me lembro precisamente o mês nem a data), conheci fui apresentado a Ézio Ferreira e a todos os demais membros da família dele. Não ficamos amigos, apenas conhecidos. Vez por outra, no dia 1 de maio, Marialvo me convidava e eu ia ao “aniversário do Ézio”, quando um evento do mundo futebolístico e político de Manaus. Ézio Ferreira candidatou-se (não votei nele por termos concepções políticas completamente divergentes), elegeu-se deputado federal, viveu o auge do poder em Brasília, sem nunca deixar de nos cumprimentar, conversar, tratar bem nas idas ao Muruama. Certa vez, num destes sábados tradicionais do Muruama, quando eu já ia de carona com o Jorge, o Russo do Mercado Adolpho Lisboa, eu estava sentado, sozinho, em uma das cadeiras do Bar do saudoso Maurício. Esperava a minha vaga, pois, no Muruama, os mais novos esperavam os mais velhos cansarem e os mais velhos que chegassem atrasados esperavam termina o primeiro tempo para poderem entrar. Eis que me chega o “carrão do Ézio”. Ele sai do carro com uma garrafa de Uísque à mão (não me lembro a marca, só sei que era de altíssima qualidade). Pergunta: “Você bebe uísque? Posso sentar?” Respondi que nunca tinha bebido uma dose de uísque. Ele disse: “Pois vais beber agora”. Conversamos sobre tudo, mais que tudo, sobre a política e os bastidores do poder em Brasília, no Governo José Sarney. Ao final do encontro, uma garrafa e meia de uísque fora consumida. Terminou o primeiro tempo, começou o segundo e nós nem jogar futebol fomos. Ali naquela tarde-noite de um sábado qualquer começa uma relação de mútuo respeito entre uma pessoa que conceitualmente sempre fora de esquerda com um político visceralmente de direita. Nunca publiquei uma linha sobre nossas conversas. Ézio Ferreira jamais me pediu algum tipo de favor jornalístico (e se pedisse eu não o faria, talvez por isso jamais tenha pedido, por me conhecer). Nos últimos tempos, já como professor da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), frequentei o escritório dele aos sábados. Nosso dominó são momentos inesquecíveis de piadas, de lembranças dele e nossas. A morte o levou esta madrugada. Deixas saudades e belas lembranças de uma relação que jamais envolveu discussões políticas. Descanse em paz, meu amigo!


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