Certa vez, na Rodoviária de
Recife, um senhor me contou uma história tão dolorosa quanto convincente que
tirei a grana do bolso e “o mandei para Garanhuns”, como ele quase chorou ao
pedir. Não demorou, e antes que eu embarcasse, outro senhor apareceu e me
contou história muito similar a ponto de um município para onde ele ia ser o
mesmo. Fiquei a me perguntar se eu tinha “cara de leso” ou se fora atacado por
uma “rede de pessoas” especializadas em tirar dinheiro de nós, os mais crentes
na dor alheia. E não é que ontem a história se repetiu. Na fila para comprar os
tíquetes do Metrô de São Paulo, estação Tatuapé, um senhor com apenas dois
dentes iniciou uma “história de dor” para a senhora que se encontrava na minha
frente. Há anos não dou nenhum trocado a ninguém. Fui embrutecido pela história
que contei inicialmente e que se repetiu várias vezes comigo. Lá se foi a
senhora, que deu uns trocados ao homem banguela. Com o R$ 1,00 que sobrou do
troco do Metrô, passo por ele que insiste e, anos depois, quebro o gelo do meu
coração e dou a moeda a ele. E não é que, na plataforma, antes de embarcar,
outro senhor se aproxima e me vem com a mesma história? Será que essas pessoas
se comunicam entre si? Será que atuam gerenciado por alguém. Se não for coincidência,
são episódios estranhos como estes que nos tornam mais frios a cada dia diante
da miséria coletiva e humana.
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