sexta-feira, 23 de março de 2012

O papel da mídia nas condenações públicas



É preciso a mídia brasileira, definitivamente, entender qual o papel que exerce em um Estado democrático de direito: não cabe a ela (mídia) nem condenar nem absolver ninguém antecipadamente. Sou daqueles que, por convicção, defende que não existe notícia imparcial. Cada material publicado, em qualquer tipo de meio, carrega a parcialidade dos que foram envolvidos no processo de produção. No caso dos jornais, revistas, rádios e televisões, ainda são muito piores: possuem as digitais impressas (ou não) dos donos das empresas, muito embora, no Brasil, nem devessem, principalmente nas rádios e nas Tv, pois o espectro é concessão do Estado. Todo esse preâmbulo é apenas para registrar que a Rede Globo de Televisão, no episódio do acidente em que Thor Batista (filho de Eike Batista e Luma de Oliveira) matou o ciclista Wanderson Pereira dos Santos, embora tente disfarçar, inclusive divulgando os pontos na carteira de Thor que, rigorosamente, nem deveria mais estar a dirigir pelas ruas do Rio de Janeiro, faz defesa velada do filho do bilionário brasileiro. E isso acontece nas edições do material divulgado de forma nem tão velada. Por exemplo: ontem, vi uma reportagem na qual Thor Batista declarava que o ciclista estava no meio da pista. Em seguida, a Globo joga no ar outra entrevista, do delegado que investiga o caso, também dizendo que, até agora, pelas investigações, o ciclista estava no meio da pista. Não cabe condená-lo nem absolvê-lo. Nota-se, porém, uma clara tendência no material que vai ao ar na Globo, de “indicar” à sociedade que Thor é inocente. Li em vários lugares, porém, coisas mais escandalosas como “Thor, filho do bilionário Eike Batista, sofre acidente”. Quer dizer que o cara vem em alta velocidade, atropela e mata um ciclista e quem sofre o acidente e ele? Coitadinho do Thor, tão desamparado o garoto! Depois li outra: “Thor, que coleciona carros de luxo, desabafa no Twitter”. O fato de ele colecionar carros de luxo o condena antecipadamente? Qual a razão de tal comentário em uma manchete? Apenas revelar, talvez, o despeito de quem a escreveu, por não ter dinheiro suficiente para montar uma coleção desses Tamaguchis luxuosas. Em certos casos (ou seria quase sempre?) a mídia brasileira dá nojo!

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