A cada dia que passa mais
me convenço que a hipocrisia é a mãe de todas as virtudes na vida em sociedade.
O envolvimento do senador Demóstenes Torres (ex-DEM-GO) com o bicheiro
Carlinhos Cachoeira é de um didatismo exemplar e só conforma essa máxima
gilbertogilniana: a hipocrisia é a essência da vida em sociedade. Tanto é
hipócrita o senador, que servia aos interesses dos bicheiros mas fingia estar
ao lado de todas as causas moralizadoras nos últimos anos, quanto é a hipócrita
a reação de grande parte da sociedade, inclusive, da imprensa brasileira. Ou
vocês vão me dizer que nenhum jornalista, nenhum juiz, promotor ou delegado,
nenhuma pessoa que faz parte de grupo de elite sabe que os presidente das
escolas de samba do Rio de Janeiro possuem relações umbilicais (alguns deles
até lideram) o jogo-do-bicho em várias cidades brasileiras, dentre elas Manaus?
Não me façam rir! Esse povo que vai para os camarotes das escolas de sambas do
Rio, alguns com passagens pagas, dentre eles juízes e desembargadores, são
inocentes demais. Não sabem que o dinheiro que financia as escolas de samba vem
do bicho? Quando a Polícia Federal divulga as fitas com as declarações, todos
soltam um sonoro “ooooohhhhhhhhhhh” com a cara de espanto mais deslavada do
mundo. Tudo falso! Qualquer pessoa que vai a uma festa de Carnaval, a um
camarote de Escola de Samba, não o faz ingenuamente. Logo, alegar que não sabe
das relações incestuosas dos bicheiros com os membros dos três poderes é
hipocrisia. Sem falar que, no Brasil, essa questão do jogo precisa ser
definitivamente resolvida. Afinal, joga-se toda semana por meio das loterias da
Caixa Econômica Federal (CEF). O escândalo Cachoeira, então, só existe, porque
o jogo-do-bicho é considerado ilegal. Refestelar-se, porém, nas festas
promovidas por ele (o jogo-do-bicho) para não sê-lo.
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