Sou de um tempo em que qualquer tipo de
delação não era visto com bons olhos. Nasci em 1963. Não participei diretamente
dos “anos de chumbo da ditadura”. Os ecos, porém, chegaram ao Acre,
especificamente a Sena Madureira, minha terra natal. Não sei se por ouvir dizer
ou por abominar a prática da tortura, muito embora, como pai, às vezes a
praticasse com os filhos, fui ensinado, desde cedo, que não se deveria ter
nenhum tipo de tolerância com os “dedos-duros”, modernamente tratados como
delatores. Há alguns valores que me foram passados por meu velho pai que
repasso aos meus filhos. Esse é um deles: a intolerância diante da delação.
Quando vejo o frenesi de parte da imprensa com as declarações de Marcos Valério
e a tentativa de ele ganhar os benefícios da “delação premiada”, fico cheio de
dúvidas. A primeira delas é se delação deve ser mesmo premiada. O que seria de
muitos líderes políticos que combateram arduamente a ditadura, se a delação
fosse premiada? Certamente, muito mais gente teria sito torturada ou morta. Ou
as duas coisas. Por isso, duvido, mais ainda, das “boas intenções” de Valério.
Fico a me perguntar: porque só agora ele resolveu falar? Por ter sido
condenado? Será que havia algum trato entre eles? Alguma garantia de que seria
protegido e sairia dessa ileso? Por outro lado, também me pergunto: entregar
salteadores dos cofres públicos é a mesma coisa que entregar colegas
militantes? Será que se pode comparar os grupos de lutavam bravamente pela
liberdade aos mensaleiros e traficantes de influência de Brasília? Ainda não
tenho respostas. Mas, prometo continuar a refletir sobre todas essas dúvidas.
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