terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Dúvidas quanto à delação premiada


Sou de um tempo em que qualquer tipo de delação não era visto com bons olhos. Nasci em 1963. Não participei diretamente dos “anos de chumbo da ditadura”. Os ecos, porém, chegaram ao Acre, especificamente a Sena Madureira, minha terra natal. Não sei se por ouvir dizer ou por abominar a prática da tortura, muito embora, como pai, às vezes a praticasse com os filhos, fui ensinado, desde cedo, que não se deveria ter nenhum tipo de tolerância com os “dedos-duros”, modernamente tratados como delatores. Há alguns valores que me foram passados por meu velho pai que repasso aos meus filhos. Esse é um deles: a intolerância diante da delação. Quando vejo o frenesi de parte da imprensa com as declarações de Marcos Valério e a tentativa de ele ganhar os benefícios da “delação premiada”, fico cheio de dúvidas. A primeira delas é se delação deve ser mesmo premiada. O que seria de muitos líderes políticos que combateram arduamente a ditadura, se a delação fosse premiada? Certamente, muito mais gente teria sito torturada ou morta. Ou as duas coisas. Por isso, duvido, mais ainda, das “boas intenções” de Valério. Fico a me perguntar: porque só agora ele resolveu falar? Por ter sido condenado? Será que havia algum trato entre eles? Alguma garantia de que seria protegido e sairia dessa ileso? Por outro lado, também me pergunto: entregar salteadores dos cofres públicos é a mesma coisa que entregar colegas militantes? Será que se pode comparar os grupos de lutavam bravamente pela liberdade aos mensaleiros e traficantes de influência de Brasília? Ainda não tenho respostas. Mas, prometo continuar a refletir sobre todas essas dúvidas.

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