sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Governador, estenda a mão aos haitianos!


O filósofo, antropólogo, sociólogo e mais todos os “ólogos” que você possa imaginar, Edgar Morin, inclui “identidade” entre os que ele denomina de “conceito-armadilha”. Isso porque, a identidade tomada ao extremo, leva à intolerância. No Amazonas, a tese de Morin se nos apresenta cristalina. Quem não se lembra do preconceito ridículo que existe em relação aos paraenses? Houve morte como reação ao termo “paraense”. Enquanto no Brasil as “piadas de portugueses” se tornaram regra, no Amazonas, ainda perdura essa extrema grosseria das ditas “piadas de paraenses”. E nelas, o paraense é sempre apresentado como se fosse ladrão. Recentemente, as declarações do governador do Estado, beneficiado pela tolerância, uma vez que não é amazonense, e de uma colunista social que virou imortal da Academia Amazonense de Letras (pasmem! O poeta Thiago de Melo, ao abdicar da cadeira, parecia pressentir a tragédia) foram intolerantes, desumanas e bem que poderiam ser chamadas de asneiras se as duas figuras públicas tivessem algum sinal desses quadrúpedes no DNA. Como não devem ter e não me cabe buscar tais comprovações, deixarei apenas no campo da intolerância e da desumanidade. Alguém já imaginou que a Terra é o nosso habitat, a nossa casa e como seria constrangedor e desumano proibir a circulação de pessoas na sua própria casa?! O mundo é de todos nós, independentemente da cor, da raça e do lugar que nascemos. Um Estado, por conseguinte, um governador, que não tivesse uma visão estreita do processo, não lavaria as mãos. Tomaria pra si (e pra nós) o problema dos haitianos e, ao invés de declarações preconceituosas e excludentes, diria algo assim “vocês, acima de tudo, são seres humanos. Não mediremos esforços, iremos a Brasília, aos órgãos humanitários de defesa da vida, mas vocês não ficarão desamparados”. Governador! Sou acreano de Sena Madureira. Sou professor de carreira da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e só consegui chegar aonde cheguei graças ao apoio que recebi da família Bulbol. Sem eles (e o meu esforço e trabalho), não venceria! E por ter evoluído intelectualmente e que hoje tenho a convicção que o mundo é de nós, todos nós, seres humanos e seres vivos. Já imaginaram se o melhor bailarino do Amazonas só pudesse morar em Manaus? E, dentro de Manaus, só pudesse ficar no local que nasceu? O que seria do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva se fosse obrigado a permanecer em Garanhuns? Um mundo sem fronteiras e passaportes é uma utopia. Mas um ser racional, sem sonhos, torna-se insensível e propício a desconhecer as próprias histórias e cometer gafes como fizeram o governador e a colunista. Como acredito na sensatez de todos os seres vivos, espero, pelo menos do Governador do Estado, que mude de tom, arregace as mangas, amplie a #redesolidária tão propagada pela esposa nas Mídias Digitais e estenda a mão aos haitianos.


3 comentários:

  1. Caro professor. Todos sabemos que o senhor tem problemas com a família Aziz, por conta da violência desmedida e descabica que o senhor sofreu no lugar de trabalho. O que é um absurdo, mas devo dizer que ouvi todo o audio da entrevista do governador do Estado e, sinceramente, não vi problemas na declaração dele. O que ele disse? Que não se nega a ajudar, mas que os haitianos precisam de uma política pública definitiva. Doar rancho, arrumar colchão ajuda, mas isso não vai resolver o problema. E mais, uma vez que o Governo Federal permite a entrada desses imigrandes no País é o governo federal que deveria agir. E a Dilma com o PT, para variar um pouco, está sendo super omissa. Para completar, acho muito bonito seu discurso social, mas gostaria de fazer uma pergunta direta: - O que o senhor, como cidadão, fez pelos haitianos? O senhor fez a doação de uma sacola de pão, pelo menos? O senhor deu uma roupa usada sua para a igreja doar para algum imigrante? O senhor seria capaz de dar abrigo a alguns desses haitianos na sua casa, até que eles arrumem um emprego? Falar de humanidade é fácil. Quero ver do senhor, de outras pessoas, atitudes práticas para ajudar essas pessoas. Recebo meu salário na semana que vem. Ganho pouco, mas vou ajudar essas pessoas com o pouco que tenho. O senhor, em vez de ficar apenas criticando, deveria convocar as pessoas que param para ler esse blog, a ajudar os haitianos. Isso sim, seria uma atitude bem mais humana da sua parte. Vamos todos ajudar, professor.
    Carlos Henrique

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  2. Caro Carlos! Sei fazer a diferença. Em nenhum momento citei nem o nome da família do Governador para não misturarem os problemas como você o fez, deliberadamente ou não, impossível julgar. Você não conhece a minha vida nem a minha história, portanto seus questionamentos diretos a mim não se aplicam. Ademais, puxar uns trocados do bolso, entregar ao mendigo e lavar as mãos é atitude hipócrita. O problema é político e muito mais amplo. A luta por um mundo mais justo e melhor não se mistura com um ato insano de qualquer membro da família. Não sou responsável pelos atos dos meus irmãos assim com o governador não o é pelos atos dos irmãos dele. Que assim o seja sempre!

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  3. Gilson,tu és um altruísta de excepcional valor. Omar, deveria refletir que chegou a aqui de pires na mão,vindo de outras paragens, né poeta?

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